Sabemos que, se a Igreja quiser dar resposta aos desafios da Missão, principalmente àquela mais exigente e de fronteiras, deve contar com o dinamismo e a força da juventude. Ousadia, vitalidade e criatividade são algumas das suas mais valiosas características, que podem liderar ações evangelizadoras. Por outro lado, a Igreja sempre teve dificuldades de lidar com a juventude e aceitar o seu protagonismo. Estas e outras questões fazem parte da lista de preocupações das pastorais da juventude e movimentos. A juventude pede passagem e reivindica o seu jeito de ser Igreja. Um modo de ser Igreja Jovem, concebida como espaço de comunhão e participação, de justiça e profecia. Contudo, se a juventude quiser marcar diferença deve se preparar, mergulhar em estudos e investir na formação. Isso exige disciplina e aplicação para vencer a tentação de contentar-se com banalidades e modismos que chegam causando alvoroço, mas logo desparecem sem agregar conteúdo.
De certa forma, a juventude é o rosto do Brasil. E algumas estatísticas revelam a triste face de um país dividido e desigual. O número de pobres e desempregados entre os jovens cresceu. A violência contra os jovens, dos 15 aos 24 anos, continua sendo dramática no Brasil com uma taxa de 52,9 homicídios por cem mil habitantes. Os números fazem parte do "Mapa da Violência 2011", do Ministério da Justiça. A taxa de homicídios entre jovens está três vezes acima da média internacional. As Pastorais da Juventude, com o apoio do Setor Juventude da CNBB, deram início, em 2009, à Campanha Nacional contra o Extermínio da Juventude. A Campanha objetiva conscientizar e desencadear ações para mudar essa realidade de morte.
Quanto à educação, no Brasil, cerca de 3,8 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos estavam fora da escola em 2010. Nenhum estado atingiu a meta do movimento "Todos pela Educação" para aquele ano, que era de 93,4% de acesso. E a decisão de valorizar os professores com o reajuste do piso salarial, para chegar perto do que pede a própria Constituição, encontra resistência.
Olhando para o interior da nossa Igreja, em geral percebemos a ausência da juventude na vida das comunidades. Grandes eventos como a Jornada Mundial da Juventude - JMJ, e alguns shows católicos movimentam os jovens e atrai a atenção da mídia, o que muitas vezes os convertem em espetáculos de fé. Essas iniciativas sem um trabalho consistente não formam pessoas comprometidas, não criam raízes e dificilmente concretizam projetos transformadores. Temos a convicção de que, se a juventude não se organizar em grupos de base nas comunidades, incluindo jovens indiferentes e afastados, dificilmente teremos uma Igreja Jovem e atuante. O caminho não se faz com triunfalismo ou espetáculo, mas alicerçado nos valores evangélicos, com uma séria reflexão que leve a juventude a articular fé com a questão pública, gerando projetos reais. Nesse sentido, organização, identidade e ações concretas podem contribuir para um trabalho consistente na formação de cidadãos com personalidade. Assim formaremos jovens protagonistas e agentes de transformação.
Fonte: Jaime C. Patias - Revista Missões