Segundo o professor, o conceito de bem viver não é sociológico, e sim político. “É uma ruptura radical ao capitalismo, porque diz não à mercantilização da natureza e do ser humano”, acentuou. Dávalos comparou o neoliberalismo com o pós-neoliberalismo, afirmando que, no primeiro, há privatização e acumulação monetária, enquanto no segundo, há uma sede em tomar os territórios, a soberania das populações e seu meio ambiente.
Na América Latina, o que acontece atualmente, de acordo com Dávalos, é a criminalização de quem defende sua terra, seu espaço. Segundo o professor, a situação se repete em vários países, como México, Equador, Bolívia, Guatemala e Brasil.
A segunda palestra do dia foi ministrada pelo engenheiro florestal e membro da Via Campesina, Luiz Zarref, que discorreu sobre as origens e causas da questão ambiental e as crises pelas quais o mundo está passando, além do impacto do ser humano na natureza. “É fundamental ter a clareza de que é o capitalismo que leva à crise ambiental que vivemos”, disse Zarref.
O engenheiro destacou que a sociedade por uma grande crise do modelo de produção hegemônico, que se divide em várias crises pontuais: crise alimentar, energética, política, ambiental. “É uma crise sistêmica”, apontou Zarref. Para o engenheiro, a discussão sobre os impactos do ser humano já existe há mais de dois séculos, com o início da Revolução Industrial. “O planeta sempre estará gritando contra o capitalismo!”, ressaltou.
De acordo com Zarref, o termo mudanças climáticas ainda não é algo muito preciso para a maioria da sociedade. Segundo disse, no próprio meio científico ainda há discussões, visto que é um conceito novo, criado nos últimos dez anos. Zarref apresentou como exemplos das mudanças que afetam o clima as secas na Amazônia e o aumento da temperatura dos oceanos.
“Os impactos são muito fortes e o capitalismo vem tentando apresentar propostas para diminuir estes problemas, mas na verdade são falsas soluções”, afirmou Zarref. “O capital propõe mudanças na matriz energética, mas não propõe a discussão sobre aonde vão as energias. Sugerem a fabricação de carros ecológicos, mas não discutem o transporte coletivo”, sublinhou.
A Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) é, segundo Zarref, “mais uma forma de enganar que o capitalismo criou”, pois os países não querem discutir redução da emissão de gases. “O REDD não é dinheiro fácil, eles não querem que o desmatamento acabe, e sim os grandes territórios, como as terras indígenas”, afirmou.
A solução para esses problemas, na visão do engenheiro, é pensar a autonomia dos povos e a auto-sustentação. “É preciso conhecer experiências de enfrentamento pelo mundo, conhecer os termos utilizados nas discussões da problemática”, destacou.
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CNBB/CIMI