sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ato pela vida reúne organizações para manifestar repúdio à violência contra moradores de rua

Nesta quinta-feira, 20 de maio de 2010, às 9h da manhã, em frente à Catedral da Sé, na capital paulista, um grupo de lideranças de organizações que trabalham com a população de rua realizou "Ato pela vida", denunciando violências sofridas por esta parcela da população.

Participaram do ato - promovido pelo Movimento Nacional da População de Rua, com apoio do Vicariato do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo - representantes do Movimento Nacional de Direitos Humanos, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência, além de diversos movimentos e pastorais ligados à Igreja Católica.

O arcebispo de São Paulo, cardeal dom Odilo Pedro Scherer, participou da manifestação na escadaria da Sé, quando pronunciou o discurso que segue, na íntegra, abaixo. Da Sé, os manifestantes caminharam até a Câmara Municipal, passando pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social e pela Prefeitura da Cidade de São Paulo.

Mais informações:
 
Assessoria da Arquidiocese: Rafael Alberto - (11) 8287-1120
Vicariato do Povo da rua: Ana Maria - (11) 9427-9070

Fala do cardeal arcebispo de são Paulo, dom Odilo Scherer, durante "Ato pela vida", contra violência sofrida pela população de rua nos últimos tempos

"Quero dizer uma palavra que já disse, numa nota publicada outro dia, quando houve aquela chacina no Jaçanã. Primeiramente, uma palavra de forte e firme repúdio a esses tipos de ações e chacinas contra a população de rua ou contra quem quer que seja. Não é permitido fazer justiça desta forma. É contra os direitos humanos, e contra a dignidade humana, e contra o Estado, contra a convivência civilizada. Por isso, a população toda deveria se organizar e deveria protestar fortemente contra essas chacinas que a cada tanto estão acontecendo.

Segundo, a impunidade leva facilmente a cometer novos atos semelhantes. Por isso, o meu pleno apoio às iniciativas que reclamam por investigação e elucidação sobre os fatos já acontecidos. Nós ainda estamos aguardando conhecermelhor o que aconteceu em 2004. Depois disso, quantas chacinas aconteceram! E agora mais uma.

Essas chacinas, naturalmente, têm causas, têm autores, têm mandantes, têm uma lógica e essa lógica precisa ser investigada, elucidada e claramente assumida pela Justiça do Estado. Se não, a população que vive em situação de fragilidade, continuará frágil e, de alguma maneira, exposta a ser um dia surpreendida por um ato de chacina.

Terceiro, eu gostaria de dar a minha palavra de solidariedade a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, são vítimas de violência. Ninguém pode ser sujeito à violência por parte de outrem. Existe o caminho da legalidade e da normalidade da Justiça, que deve ser seguido. Ninguém está autorizado a cometer atos de violência, porque são atos criminosos. Por isso, a população mais frágil, como é a população de rua, não deve ser desprotegida.

E aí o meu quarto apelo, para que a sociedade olhe com muito carinho a população de rua, que está aumentando em nossa cidade, como já foi dito. Infelizmente, não é só a nossa cidade, mas outras passam pelo mesmo problema. Aqui nós temos, graças a Deus, algum trabalho que já tem um caminho andado.

E, por isso, temos a possibilidade de que as organizações ligadas ao povo que vive na rua possam conseguir um diálogo com as representações do Poder Público, com os vereadores da nossa cidade, com o Poder Executivo, com as organizações empresariais e demais organizações da cidade para encontrar uma saída para esta situação que ninguém quer. A população de rua não quer permanecer na rua, e eles mesmo há pouco disseram.

É preciso que haja, por isso mesmo, uma política pública eficaz, que inclua, por um lado, a questão da moradia, que inclua a questão do trabalho, que inclua a questão da educação, da saúde, a questão da segurança e a reinserção social. Portanto, uma política abrangente para esta situação de população de rua.

É isso que nós gostaríamos de falar e de manifestar hoje, para que possa ser ouvido e que vocês, agora, continuando a sua caminhada, possam levar esses anseios para quem representa o poder de legislar para esta cidade, para que o vosso grito seja ouvido e efetivamente levado à solução.

Esta é uma situação que a todos nós, de alguma maneira, ofende e questiona. Essa situação de violência, de fragilização da população de rua também a todos nós deixa perplexos porque mancha e agride a dignidade humana, a dignidade de todo o cidadão que olha para o seu próximo como um irmão.

Deus ajude e abençoe vocês! Deus proteja a todos os movimentos e organizações da população que vive em situação de rua. E agora vamos invocar a benção de Deus para que vocês continuem o seu caminho, o seu trabalho e a sua luta.

A benção de Deus todo poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo, desça sobre vós e permaneça para sempre!

Vocês estão vendo ali, no meio da praça da Sé, ali está o apóstolo São Paulo, mostrando a todos a Palavra de Deus, aquilo que nós aprendemos da Palavra de Deus sobre a dignidade de todo o ser humano, de todo o filho e filha de Deus. Está recordando isso à cidade.
Mais adiante, está o padre Anchieta, fundador da cidade. Ele que viveu no meio da população indígena, como missionário. Será que ele está contente com o que está vendo hoje por aí? Acho que não! Padre Anchieta seja alguém que ajude a nossa cidade, ajude a dar rumo e indicações para aquilo que podemos fazer hoje para melhorar a vida desta cidade. Obrigado."



Fonte: Vicariato Episcopal para a Pastoral da Comunicação - Transcrição Rafael Alberto
Local: São Paulo - SP