domingo, 23 de junho de 2013

Retiro Missionário em Cotia

Dia 23 de junho de 2013, domingo de pouco sol e vento com uma brisa fria, mas suave. Olhos que brilhavam nos rostos alegres dos missionários/as que chegavam. A igreja pequena acolheu mais 200 pessoas. Uma bela celebração da Eucaristia lembrando que a missão de todo batizado é tomar a cruz de cada dia. Padre Everaldo Felix, pároco da Paróquia Imaculada Conceição, em Caucaia do Alto, Cotia, diocese de Osasco, São Paulo, acolheu os fiéis neste dia de Retiro Missionário e afirmou que devemos levar a cruz com alegria, nas dores e a cada dia. Não cortá-la, nem esquecê-la, mas carregá-la como o Mestre Jesus o fez, concluiu o padre.

Logo após a Eucaristia, foi servido o café da manhã no Salão Paroquial, seguido de uma breve invocação ao Espírito Santo. O Retiro foi preparado pelo Conselho Missionário da Região de Cotia. Eram cerca de 80 missionários/as. Padre José Altevir, da Congregação do Espírito Santo, foi o orientador. Com o tema: "Missão, testemunho de fé" e o lema: "Envia!", convidou os participantes a refletirem com novos olhares sobre a missão. Palavra tão ampla e com muitos sentidos pode causar susto, medo ou esperança. Pode servir para tudo ou para pequenas coisas - disse o padre Altevir.

O Retiro Missionário focalizou três aspectos: a Espiritualidade Missionária, a Proposta de Aparecida e o Ano da Fé e por último, a Leitura Orante de Lucas 5, 1-11. O orientador enfatizou que devemos deixar de olhar para as nossas teorias e de não vermos a missão como ‘um fazer'. Sentir a ação do Espírito de Deus em nós, nos outros, na sociedade e no mundo. Sentir que a ação do Espírito de Deus nos torna leves como uma pena para que deixemos de ser um peso para os irmãos e irmãs. É o Espírito que nos leva ao encontro dos outros.

Deixarmo-nos guiar por Ele e por onde somos enviados. Precisamos sentir o sopro do Espírito de Deus para sermos mais leves, brilho nos olhos e rostos alegres pelo bem que fazemos. Ir ao encontro do outro, não na criação de novas estruturas para a missão, mas ações centradas nas pessoas, pois elas são o coração da missão. Missão não é como passar graxa nas engrenagens das estruturas internas da Igreja para somente manter o que temos, como se fôssemos obter um resultado eficiente e com ‘lucros'.

Em segundo lugar acentuou a necessidade de termos presente que a missão é se colocar a serviço do Reino de Deus. Não podemos falar da missão a partir de nossas cabeças, mas "descer e ouvir as pessoas e os apelos de Deus no coração das pessoas". Não consiste em ir ao encontro dos outros para levar algo nosso, mas de acolher os apelos, os clamores daqueles que vamos ao encontro. Por isso, a missão é Deus. Ele vai à frente. Não vamos levar Deus, mas vamos chegar perto do coração das pessoas dispondo-nos a partilhar os caminhos da missão. As pessoas sentem sede da palavra de Deus. Citou São Francisco Xavier, missionário na Ásia, "evangelizar sempre e em todos os lugares sem necessidade de usar palavras". O que é escutar os desejos das pessoas e falar de Deus sem citá-lo? Contou sua própria experiência de fé e de caminhada vocacional ainda quando criança, na sua terra, na grande Amazônia. Lá esteve um missionário espiritano de nacionalidade alemã. Não sabia falar bem a língua portuguesa. Longos dias navegando pelas águas ao encontro de comunidades longínquas. Passava pelas comunidades a cada ano e meio para celebrar a Eucaristia e fazer a ‘desobriga'. O missionário pouco falava. A expressão no rosto revelava sua alegria serena de testemunhar a fé naquele que o chamou. Era assim que ele anunciava o Evangelho. E o povo lhe dizia ao acolhê-lo: "A gente adoece e fica bem só com a graça de Deus e com as águas do rio". Isto é que é testemunho de vida e de fé, disse padre Altevir.

Num terceiro momento, o orientador voltou-se para um olhar interno de nossas comunidades cristãs. Aí acentuou alguns modos de se viver a missão na disponibilidade, no respeito para com o outro, na colaboração mútua entre todas as pessoas, pastorais e movimentos. Destacou a necessidade de se colocar muita paciência, oração, frequentemente regada com gestos de caridade. Construir comunidades e formar missionários para que se dediquem à construção da unidade. Isso pode gerar incompreensão. Novas metodologias de se fazer reuniões e encontros. A atuação pela interação mútua, deliberação e ação em conjunto. Falta-nos, dizia padre Altevir, o espírito missionário nas nossas atividades ordinárias, onde o Espírito cria relação. Deixar de ter um olhar unilateral para ser abrangente e valorizar tudo o que é feito na comunidade. O que somos e damos testemunho de nossa fé, não provém de nossos encargos, tarefas, empreendimentos. Mas vermos e sentirmos como dom de Deus. Se for assim, aparecerá um testemunho de fé, mais do coração, ligando afeto, sentimento e razão. Alargar nossa visão tão estreita dentro de nossas pastorais e movimentos para vermos o conjunto todo. Temos que nos dar as mãos e trabalhar com o coração e fé nas pessoas. Temos a tentação de nos fecharmos. Achamos que somente nós é que fazemos o bem e nos mantemos distantes do mundo, dos seus conflitos e esperanças.

Devemos nos manter antenados perto de nós, tanto quanto aos missionários/as longe, distantes de nós e com problemas bem diferentes dos nossos. Devemos rezar por eles, pois a missão não é nossa, mas vem de Deus.
A Igreja é, por natureza, missionária a exemplo de seu Mestre Jesus, o missionário do Pai. Há uma linguagem que necessita ser questionada, pois se fala: "hoje eu vou para a pastoral e amanhã irei para a missão!" Não se pode separar as coisas. Não se pode falar "vou à pastoral e amanhã à missão". Não existe pastoral se ela não for missionária - acentuou o pregador. Nesse sentido, a missão não se faz, mas se vive. Cada um tem a sua maneira de se relacionar com Deus. Cada missionário tem o seu jeito, tem a sua experiência de Deus, tem a sua mística, o seu modo de ser, de viver e testemunhar a fé. Jesus comunicou aos seus discípulos a sua experiência de Fé que passou pelos caminhos da paciência, da rejeição, da morte e da ressurreição. Missão não é um falar de Deus às pessoas, mas falar a Deus junto com os outros. Jesus ajudou as pessoas a fazer a experiência de Deus no coração. Ser presença no meio das pessoas. Acolher a esperança de cada uma delas. Padre Altevir lembrou a todos do 8º Congresso Latino-americano, com o lema: "América com Cristo: escuta, aprende e anuncia". Acentuou que missão não é ‘um evento, que tem começo, meio e fim', não é show e nem espetáculo, mas é experiência de Deus vivida no dia a dia em todos os momentos de nossa vida. Se sou batizado, sou missionário. Se sou missionário é porque sou batizado.

Ainda antes do almoço houve um momento de partilha sobre as experiências e ações missionárias feitas pelos participantes. À tarde, o pregador apresentou "a desafiante proposta de Aparecida". A Missão tem seu ponto de partida a partir da realidade que nos interpela e nos conduz ao Reino da Vida. As condições de vida dos milhões e milhões de abandonados, excluídos e ignorados contradizem o projeto do Pai e desafiam os cristãos a um maior compromisso em favor da cultura da Vida. Como ponto de chegada a promoção humana que leva à autêntica libertação, integral, abarcando a pessoa inteira e todas as pessoas, fazendo-as sujeito de seu desenvolvimento (DAp 399). Nisto aparece o caráter missionário da Igreja em "estado permanente de missão": para anunciar o Evangelho os cristãos necessitam se converter à luz do Espírito de Deus, "desinstalarem-se de seu comodismo, estancamento e tibieza; converter-se em um poderoso centro irradiador da vida em Cristo; um novo Pentecostes, que nos livre do cansaço, da desilusão e da acomodação" (DAp 362). Para ser viver isto é necessário trilhar o caminho à luz da opção pelos pobres na experiência pessoal de fé, na vivência comunitária, formação bíblica e teológica e por último, o compromisso missionário seja assumido por toda a comunidade.
Para concluir o tema "Missão, testemunho de Fé", padre Altevir fez junto com os participantes a Leitura Orante na ótica missionária em quatro passos no texto de Lucas 5, 1-11: Leitura do Texto, Meditação, Oração e Contemplação. A intenção fundamental foi animar missionariamente a comunidade que Lucas acompanhava. Jesus age em cada cristão, transformando-o de "pescador de peixes para pescador de homens e mulheres". As missões sob a ação do Espírito de Deus, animadas pelas práticas pastorais, ajudam os cristãos a buscarem o Reino de Deus. Com uma espiritualidade da partilha, da escuta, da uma interação mútua e valorização de todos os cristãos, o Espírito de Deus atua e projeta o cristão à liberdade e à participação, atualizando o seu testemunho de fé conectado com e neste mundo. Dar respostas de nossa fé, testemunhando-a na simplicidade, é a vivência do nosso batismo. As pessoas têm sede da palavra de Deus, concluiu Padre Altevir José. O retiro missionário encerrou-se com a benção do Santíssimo.

Fonte: Mário de Carli / Revista Missões