quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Um passo ulterior em direcção à transparência. É assim que P. Lombardi define a sentença de remissão a julgamento de Paolo Gabriele, acusado de furto grave de documentos privados do Santo Padre

A sentença de remissão a julgamento que conclui uma parte da instrutória levada a cabo pela magistratura do Vaticano sobre a questão da publicação de documentos privados, não representa, certamente, o êxito final das investigações e das reflexões sobre o que esta questão significa e em que contexto amadureceu. Refere-se, com efeito, a uma crime específico e a duas pessoas (uma directamente responsável e outra envolvida só de forma indirecta), e não a um conjunto articulado de eventos e relações sobre a qual a própria magistratura e uma comissão cardinalícia foram chamadas a indagar, com competências especificas e perspectivas diferentes.

No entanto, a publicação da sentença e da requisitória que a precedeu não devem ser subestimadas, pois que constituem passos concretos, realizados com instrumentos e métodos jurídicos específicos, para enfrentar os problemas com rigor e transparência, sem abreviar o caminho ou procurar coberturas, mesmo que bem intencionadas.

Uma publicação ampla e completa como a desta manhã [segunda-feira], omitindo apenas os nomes e apelidos de pessoas que devem ser tuteladas, é um acto corajoso e até agora de certo modo, inusual, no Vaticano.

A decisão do Papa de encorajar o trabalho da magistratura tem um valor significativo, de respeito escrupuloso em relação à competência e autonomia desta instituição, e de confiança na contribuição que pode dar no difícil e árduo caminho de procura da verdade e de estabelecimento da justiça com instrumentos humanos.

Trata-se talvez duma aproximação corajosa, mas leva-nos a pensar que tal como o caso do confronto com as instituições externas do Moneyval ajuda certamente a crescer em direcção à transparência económica e financeira, assim também o maior reconhecimento do papel da magistratura pode ajudar hoje em dia a crescer em direcção à transparência e à coerência no campo da comunicação e da discussão doutras questões estritamente eclesiais.

O contributo da magistratura não basta, portanto, para enfrentar toda a gama de problemas, mas é serio e empenhativo e pode fazer reflectir dum novo ponto de vista sobre a seriedade das questões de fidelidade às instituições às quais se presta serviço, do valor da comunicação confidencial, da solidariedade e da responsabilidade união no serviço das instituições.
Também esta é uma perspectiva através da qual se pode ler a orientação adoptada conscientemente pelo Santo Padre no estabelecimento dos tempos e modos para guiar os seus colaboradores com amplo respiro num serviço cada vez mais eficaz e evangélico à Igreja.

Fonte: Rádio Vaticano