quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Igreja: existe espaço para os jovens?

Missa de domingo. Basta um olhar em volta e a rápida constatação: predominam os cabelos brancos. Onde estarão os jovens? Quando os idosos chegarem ao fim da vida, quem assumirá seu posto na Igreja. São perguntas que exigem uma resposta dos pastores.

O real tem dois ângulos?

Um líder paroquial afirmava com orgulho:
- “Em nossa paróquia não existe o tal choque de gerações”.
A mocinha ouviu e retrucou:
- “Claro! Os jovens foram todos embora!”
Naturalmente, os adultos se justificam: “A nova geração é agitada e barulhenta. Os jovens questionam tudo e não têm muito respeito pelos mais velhos. Eles são irreverentes com todos...”
Claro que a situação poderia ser vista pelo ângulo oposto: “Os idosos são comodistas, não querem ser incomodados em sua acomodação. Os mais velhos já descobriram a forma ideal de fazer as coisas na Igreja (o modo deles!) e não aceitam nenhuma sugestão para modernizar as coisas. E quando cometem seus erros, os mais velhos não têm humor para rir com os demais...”

Abrir espaço

Para o sacerdote salesiano Jean-Marie Petitclerc, trata-se de garantir um lugar para os jovens na Igreja. “Quando reflito sobre a relação entre jovens e os mais velhos na Igreja, eu sempre parto daquilo que está mais próximo de mim. Quanta riqueza existe nas famílias, nos vínculos entre os filhos e os pais! Hoje, certos adolescentes ensinam seus avós a escrever SMS... E os avós encontram tempo para os escutar, para lhes falar de sua própria juventude, mas também para se interessarem por aquilo que os jovens de hoje estão vivendo. Não é raro ver os jovens no cinema com seus avós. Este caminho de acolhida é profundo, e leva os mais velhos a agitar um pouco os seus hábitos!”

Pe. Petitclerc sonha com algo parecido na Igreja: um espaço onde os mais velhos possam acolher os jovens assim como eles são. E confessa a sua experiência: “Quando os jovens entram em uma igreja, muitas vezes eles têm a impressão de que ali não há espaço para eles, pois os bancos estão cheios de gente de cabeça branca. Em minha paróquia, por exemplo, eu celebro uma missa de jovens uma vez por mês. Temos guitarra, bateria e saxofone, e não há homilia, pois os jovens não gostam desse lado escolar. Em vez de homilia, eles se repartem em grupos e, a seguir, vão ao microfone e dizem aquilo que partilharam a partir do Evangelho”.

Os pais que os acompanham chegam a comentar: “Ainda que não seja o nosso estilo, ficamos contentes de ver nossos filhos na igreja”. Por seu lado, os mais jovens apreciam a presença dos pais.

Responsabilidades para os jovens

Eis a opinião de um empresário sobre os jovens no trabalho: “O fosso entre as gerações sempre existiu, mas eu tenho o sentimento de que hoje ele é mais importante do que antigamente. Os jovens que entram para o mercado de trabalho são muito desconfiados dos mais velhos. Eles sabem que deverão trabalhar por mais tempo e que novas medidas deverão ser tomadas a fim de manter um regime de proteção social, ainda que sem a garantia de isso seja conseguido”.

A herança ambiental negativa legou às novas gerações uma fonte de inquietude quanto ao futuro. Eles temem que a conta do processo de crescimento sustentável seja paga por eles. Em todos os campos, os jovens sentem grande dificuldade em confiar nos mais velhos. E com certa razão, parece...

Na Igreja, enquanto não forem confiadas responsabilidades aos jovens, certamente eles permanecerão à distância. A atual indiferença dos mais velhos não parece ser a melhor pedagogia.

Caminhos de aproximação

Em busca de táticas para atrair os jovens para a Igreja, os estudiosos apontam algumas estratégias a serem adotadas:

- Criação de relações mais profundas em comunidades pequenas, que permitam mais proximidade e interação;
- Levar os jovens a servir aos outros através de atividades voluntárias;
- Oferecer oportunidades de culto que reflitam a sua cultura, sem excluir a reverência a Deus;
- Estabelecer comunicação eficaz, variada no estilo e mais dialogal do que a pregação habitual;
- Tecer relações entre gerações, ligando os jovens a adultos mais velhos, com o desafio de maior amadurecimento;
- Exercer uma liderança honesta e autêntica;
- Zelar pela transparência e pelo senso de humanidade;

Sentinelas da manhã

Na Jornada Mundial da Juventude, em 2000, o Papa João Paulo II referiu-se aos jovens como "sentinelas da manhã neste alvorecer do terceiro milênio". E disse-lhes: “Escutei as iniciativas com as quais desejais empreender, juntamente com toda a comunidade diocesana, um caminho compromissado, mas fecundo, de bem. Encorajo-vos a trabalhar em constante colaboração entre vós, com a ajuda dos serviços diocesanos para a pastoral juvenil. Depois, peço aos movimentos e às novas comunidades que insiram as próprias experiências na Igreja local e nas paróquias, para o bom êxito desta obra missionária que deve ser sempre promovida e realizada em conjunto”.
Talvez os jovens tenham tentado. Não sabemos se foram acolhidos...
 



Fonte: O Lutador 
Local:Belo Horizonte (MG)